domingo, 18 de março de 2012

TRANSTORNO BIPOLAR DO HUMOR - Dr. Márcio Candiani

No passado chamava-se “doença maníaco-depressiva” e  caracteriza-se por oscilações do humor (=estado de ânimo) muito  além das variações comuns de humor.


Há relatos de pessoas que apresentavam o transtorno na Grécia antiga e no Egito. A explicação para o transtorno passou das hipóteses dos fluidos (melancolia – bile negra causando depressão e bile amarela provocando euforia).
Passaram aos temperamentos. Já se pensava na associação entre depressão e “folia a dupla forma”, ou seja alguns pacientes com depressão apresentavam também alteração com mania.
Grandes Psiquiatras como Falret, Ballarget, cotribuíram na construção do conceito de psicose maníaco depressiva. Emil Kraepelin separcou a esquizofrenia da psicose maníaco depressiva (a primeira tendo um prognóstico bem pior e incapacitante à época).


Não são apenas altos e baixos daida diária.  O humor pode chegar a níveis extremos e se tornar independente do que acontece normalmente com a pessoa.
O portador deste transtorno pode passar por vários episódios e graus de variação do humor, desde alterações quase imperceptíveis até alterações muito graves (mania, ou depressão grave ).
Não se trata de falta  de caráter. São alterações biológicas em partes do cérebro que regulam o humor.
Como toda doença, esta é biopsicossocial, ou seja, há uma predisposição genética, que promove alterações  em circuitos cerebrais e níveis de substâncias que controlam o humor.
Com um estressor social, ou psíquico grave, os genes podem passar a produzir substâncias químicas no cérebro que provocam a alteração do humor ou mesmo parar de produzir algumas substâncias chamadas neurotransmissores, como serotonina, noradrenalina, dopamina e vários outros).

O que é transtorno bipolar? por portalminhavida no Videolog.tv.




Chama-se transtorno bipolar, porque todas as doenças pela Classificação Internacional das Doenças (CID 10), têm uma causa pressuposta.
Nos transtornos mentais esta causa é desconhecida, por enquanto, por isso são chamados transtornos mentais.
Estas alterações do humor respondem a medicamentos (Estabilizadores do humor, como Lítio, àcido Valpróico e Carbamazepina e Lamotrigina, principalmente).
Além disso medicamentos mais novos (antipsicóticos atípicos têm sido utilizados para estabilizar o humor de muitos clientes (Quetiapina, Olanzapina e Risperidona, por exemplo).
Parte 1


Parte 2

Muitos pacientes precisam utilizar antipsicóticos típicos (tranqüilizantes mais potentes) nas crises de euforia (mania, humor muito elevado) para um efeito mais rápido nos sintomas como agressividade, impulsividade, risco para si e para terceiros, comportamentos inadequados e arriscados.
Em episódios de depressão, há controvérsia quanto ao uso de antidepressivos, mas estes devem ser utilizados SEMPRE com um estabilizador, para que o paciente não cicle (mude) de um episódio depressivo para um episódio maníaco.
Apesar da controvérsia sobre uso de antidepressivos em bipolares, na experiência clínica de muitos psiquiatras do Brasil e do mundo usam antidepressivos em vários pacientes, porque o tratamento convencional com estabilizador do humor apenas, não resolve a depressão.
O transtorno (“doença”) não termina quando as graves alterações do humor são controladas. É uma “doença” crônica, rntecorrente, recidivante (há várias recaídas) e incapacitante que acompanhará o sujeito para  o resto da vida, como asma, o diabete e a hipertensão.
Alguns episódios de alteração do humor podem fazer com que os portadores tenham prejuízo financeiro, risco de morte, risco na carreira e relacionamentos.
Existem, felizmente tratamentos eficazes e estratégias individuais para controlar os episódios e evitar recaídas.
Deve-se fazer acompanhamento médico (psiquiátrico) e psicológico (psicoterapia), além de medidas para se evitarem crises (descobrir os fatores desencadeantes, os estressores sociais e substâncias ou medicamentos que podem provocar crises ).

 O transtorno pode isolar muito o indivíduo e impor desafios. É importante manter relacionamentos  saudáveis, estilo de vida saudável (alimentação e atividade física saudável), manter sono regular.
Muitos pacientes aprendem estratégias para lidar com suas crises.
Há momentos em que as pessoas se sentem tão mal que toda a energia parece ser usada apenas para sobreviver.
Em momentos de humor normal (eutimia) quando se deve continuar o uso das medicações e manter a vigilância para alterações do comportamento, como insônia, falta de energia, desânimo, choro fácil, irritabilidade, baixa estima na depressão .
Ao contrário,  trocar o dia pela noite, sentir-se muito bem mesmo com poucas horas de sono, idéias de grandeza (achar que pode fazer muitas coisas ao mesmo tempo), falar excessivamente, fazer compras por impulso, desnecessárias, brigar mais no trânsito e ficar mais irritado com as pessoas.
O transtorno bipolar causa um grande grau de sofrimento e pode causar conseqüências negativas em alguns  momentos:  risco de suicídio, perda de emprego, perda de relacionamentos afetivos, grandes perdas financeiras, irritabilidade com pessoas queridas.
Por outro lado, há uma relação entre bipolaridade e criatividade, grandes feitos e fama.
Van Gogh (fez belíssimos quadros). Elvis Presley, Kurt Kobain (vocalista do grupo nirvana), o cantor  Lobão (que recentemente escreveu um livro 50 anos a mil) se destacaram na música.
A cada 100 pessoas, uma apresenta a forma mais grave da doença, chamada Tipo I.  Considerando quadros mais leves (Tipos II, III..) a doença pode acometer 5 em cada cem pessoas.

Parte 3

Mesmo sendo um transtorno grave, há um “estigma” de transtorno mental, ao contrário da asma. Ou  seja, muitas pessoas não aceitam que têm problema mental e não se tratam adequadamente.
Quanto mais informações o paciente com transtorno bipolar tiver sobre a doença, melhor: medicação, episódios de mania, de depressão, fatores desencadeantes de fases, psicoterapia, perceber os sintomas de  início de crise, redução do risco de suicídio.

 Bipolares Famosos (criativos, mas que sofriam crises graves de depressão, alguns inclusive se mataram, como Kurt Cobain vocalista da banda Nirvana, Van Gogh). Vários foram internados em clinicas de recuperação para dependência de álcool e drogas e muitos já foram internados em hospitais psiquiátrico.
Muitas pessoas se dizem bipolares, porque há esta associação com a criatividade, mas depois de conhecerem o sofrimento que este transtorno provoca, mudam de idéia.
Em 2020 estima-se que o transtorno bipolar seja a seta causa de incapacidade para o trabalho em todo o mundo.

 Bibliografia:

 - Bipolaridade e Temperamento Forte (Diogo Lara) 
– Da Psicose Maníaco-Depressiva ao Espectro Bipolar (Ricardo e Doris Moreno) 
- Digerindo a Bipolaridade (Alexandre Fiúza) 
– Não sou uma só: o Diário de uma Bipolar (Marina W.) 
– O Demônio do Meio-dia (Andrew Solomon) 
– O Modelo de Medo e Raiva para Transtornos de Humor, de Comportamento e da Personalidade (Diogo Lara) 
- KAPLAN, Tratado de Psiquiatria
- Henri Ey
- Becherry: história da psiquiatria
- Dalgalarrondo: Psicopatologia.
- CID 10
- Vuvendo com Transtorno bipolar
-Youtube (videos)
- Imagens (google)


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