Do Diário do Grande ABC
Desde os 2 anos, Maurício Arruda Fatibello, 28, tem dificuldade em se comunicar. Aos 9, quando entrou na escola e começou a aprender a ler e a escrever, ficou ainda mais difícil. Ele foi diagnosticado com dislexia e seguiu se esforçando mais do que todos os outros. "Ouvia, mas não entendia, principalmente quando o ambiente estava muito barulhento. Não conseguia focar e achava que era a dislexia", conta Maurício, que cansou de ouvir que era preguiçoso.
É como se o cérebro fosse um rádio. O sinal existe, mas por algum motivo, há ruídos, interferências e a informação não consegue ser perfeitamente compreendida. No caso, o problema está no sistema nervoso central, onde o processamento do estímulo sonoro não é feito corretamente e a decodificação é lenta.
"Todos os sons do ambiente são ouvidos por todos. Quem não tem o distúrbio, consegue prestar mais atenção no que interessa. Quem tem, ouve um monte de barulhos e fica completamente perdido", detalha Marisa Ruggieri Barone, fonoaudióloga da Faculdade de Medicina do ABC. Segundo ela, a sensação é de frustração, já que a pessoa se esforça ao máximo para entender e, simplesmente, não consegue. "O que um aluno sem DPA faz em 15 minutos, o com distúrbio leva três horas. No final, a nota ainda é ruim."
Tanto que os primeiros sinais são desatenção na escola e dificuldades na escrita, leitura e interpretação de texto. "Os professores são os que mais percebem que tem algo de errado", observa o otorrinolaringologista da Faculdade de Medicina do ABC Osmar Clayton Person.
CAUSAS
Ainda não se sabe ao certo como o DPA é desenvolvido, mas acredita-se que infecções no ouvido, alterações neurológicas, doenças neurodegenerativas, lesões nos canais auditivos, alergias, nascimento prematuro, influência genética e até falta de estímulos sonoros na infância podem provocar o distúrbio. As estruturas do cérebro que interpretam e hierarquizam os sons se desenvolvem até os 13 anos.
Ainda não se sabe ao certo como o DPA é desenvolvido, mas acredita-se que infecções no ouvido, alterações neurológicas, doenças neurodegenerativas, lesões nos canais auditivos, alergias, nascimento prematuro, influência genética e até falta de estímulos sonoros na infância podem provocar o distúrbio. As estruturas do cérebro que interpretam e hierarquizam os sons se desenvolvem até os 13 anos.
A especialista defende educação musical, capoeira, coral, dança e qualquer outra atividade que associa o movimento a um som. "Também é importante a comunicação. Precisa aprender as entonações e regras de uma conversa."
Tratamento melhora muito a qualidade de vida
Mesmo sendo realidade de milhões de brasileiros, o distúrbio do processamento auditivo é difícil de ser diagnosticado. Os primeiros exames foram disponibilizados no Brasil só em 1997 e não são todos os especialistas que fazem.
O primeiro passo para chegar ao diagnóstico é marcar consulta com neurologista ou otorrino. Eles vão descartar problemas auditivos. Depois, o paciente é encaminhado ao fonoaudiólogo, que indica bateria de exames. "Os testes verificarão quais habilidades auditivas estão alteradas e qual o grau do distúrbio", explica Daniela Gil, gestora do Departamento de Audição e Equilíbrio da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia.
O tratamento depende do tipo do distúrbio e da idade do paciente. Quem tem entre 5 e 9 anos realiza terapia fonoaudiológica. Os mais velhos podem fazer treinamento em cabine (usando fones) e aprender a lidar com situações de escuta difícil. Em média, o tratamento dura de oito a 12 sessões. "Quanto mais cedo, melhor", enfatiza Daniela, também professora da Universidade Federal de São Paulo.

Nenhum comentário:
Postar um comentário